quarta-feira, 12 de março de 2014

As crianças e a internet: como orientar o uso

A Internet pode ser um ótimo local para aprender, se divertir, bater papo com os amigos da escola e simplesmente relaxar e explorar. Mas, assim como no mundo real, a Web pode ser perigosa para as crianças. Antes de permitir que seu filho permaneça online sem a sua supervisão, estabeleça algumas regras com que todos concordem.
Se você não sabe por onde começar, aqui estão algumas idéias sobre que pontos abordar com seus filhos para ensiná-los como usar a Internet com segurança.
1. Incentive seus filhos a compartilhar suas experiências na Internet com você. Divirta-se na Internet junto aos seus filhos.
2. Ensine-os a confiar em seus instintos. Se alguma coisa online fizer com que se sintam nervosos, eles devem lhe contar.
3. Se seus filhos visitam salas de bate-papo, usam programas de mensagens instantâneas, videogames online ou outras atividades na Internet que exijam um nome de logon como identificação, ajude-os a escolher um nome que não revele nenhuma informação pessoal sobre eles.
4. Insista para que nunca informem seu endereço residencial, número de telefone ou outras informações pessoais, como onde estudam ou onde gostam de brincar.
5. Ensine a seus filhos que a diferença entre certo e errado na Internet é a mesma que na vida real.
6. Mostre a eles como respeitar os outros online. Explique que as regras de bom comportamento não mudam apenas por estarem em um computador.
7. Insista para que respeitem a propriedade de outros online. Explique que fazer cópias ilegais do trabalho de outras pessoas, como música, videogames e outros programas, é roubo.
8. Diga a eles que não devem nunca encontrar amigos virtuais pessoalmente. Explique que os amigos virtuais podem não ser quem eles afirmam ser.
9. Ensine a eles que nem tudo o que lêem ou vêem online é verdade. Encoraje-os a perguntar a você se não tiverem certeza.
10. Controle as atividades online de seus filhos com software de Internet avançado. Os controle de menores podem ajudar a filtrar conteúdo ofensivo, monitorar os sites visitados pelos seus filhos e descobrir o que fazem lá.
Como ensinar seus filhos a evitar informações falsas online
A Internet oferece inúmeros recursos e oportunidades para aprender, mas também contém uma grande quantidade de informações que pode não ser nem útil nem confiável. Como qualquer um pode publicar comentários ou informações na Internet, os usuários precisam desenvolver algumas habilidades de pensamento crítico, para julgar a veracidade das informações disponíveis online.
Isso é particularmente verdadeiro para crianças que tendem a acreditar que "se está na Internet, deve ser verdade". Tradicionalmente, os recursos impressos sempre tiveram seus meios de proteção — como editores, revisores ou verificadores de fatos — para eliminar erros, mentiras e informações pouco precisas. Entretanto, em muitos casos, a Internet não possui esses meios de proteção para verificar a validade das informações publicadas online.
Ensine as crianças como a Internet funciona e explique que qualquer um pode criar um site da Web, sem que ninguém lhe pergunte nada. Ensine-os a usar vários recursos de informação e a verificar, questionar e confirmar o que encontram online.
Dicas para ajudar as crianças a identificar informações falsas
• Inicie enquanto eles ainda são pequenos. Atualmente, até mesmo as crianças em idade pré-escolar estão usando a Internet para buscar informações. Portanto, é importante ensiná-las desde cedo a distinguir fatos de opiniões, bem como a reconhecer informações tendenciosas, persuasivas ou preconceituosas.
• Faça perguntas aos seus filhos sobre as informações que encontram online. Por exemplo, qual o propósito do site? Divertir? Vender? O site contém informações de contato sobre o autor ou uma seção "Sobre nós"? O site é patrocinado por uma empresa, pessoa ou é uma discussão pública? A Internet é o melhor local para encontrar as informações que está procurando?
• Ensine-os a confrontar sempre as informações que coletam online com as de outras fontes. Consulte outros sites da Web ou mídias — como jornais, revistas e livros, para verificar as informações. Incentive-os a perguntar a você também.
• Encoraje-os a usar várias fontes de informações, não apenas a Internet. Leve-os à livraria ou compre uma boa enciclopédia em CD-ROM, como a Microsoft Encarta. Isso lhes fornecerá acesso a fontes de informações alternativas.
• Ensine-os técnicas eficazes para encontrar informações online. Isso irá melhorar muito suas habilidades de obter informações de qualidade. Uma maneira de conseguir isso é incentivando-os a usar vários mecanismos de pesquisa, em vez de apenas um.
• Converse sobre ódio e racismo com seus filhos. Os filtros de software podem ajudar a bloquear alguns materiais desse tipo. Entretanto, seus filhos devem saber o que é o racismo e conhecer os eventos mundiais, de forma que possam reconhecer um conteúdo promotor de ódio. Saiba mais sobre Como lidar com conteúdo promotor de ódio na Internet.

terça-feira, 11 de março de 2014

Pais recorrem a novas maneiras de castigar seus filhos

Filhos e filhas ligadões em gadgets e no mundo online estão sofrendo punições bem de acordo com seus costumes high-tech. Se, antigamente, os castigos mais cruéis eram cortar a mesada, proibir sair de casa, de telefonar, cortar a TV ou mesmo confiscar as chaves do carro da família, as penalidades mais em voga hoje em dia têm tudo ver com a vida tecnológica da filharada.

Filhos encrenqueiros, desobedientes ou com boletim escolar problemático estão tendo a internet cortada, celular recolhido, videogame trancafiado e até página de Orkut e Facebook desativada.

Afinal, a tecnologia alterou muitos hábitos da juventude e, de certo modo, também mudou o significado do que seria tornar-se adulto, amadurecer ou formar laços sociais. Atualmente, as coisas que a criança e o adolescente mais prezam são bem diferentes do que lhes enchia os olhos uma década atrás.

Para a juventude plugada, a prioridade não mais tanto estar fisicamente com seus amigos. É estar grande parte do tempo com eles virtualmente, online, seja pela internet, seja pelo celular, falando ou trocando mensagens de texto.

Mas não importa as ferramentas usadas no castigo, o significado de cortar os contatos tecnológicos dos filhos como punição tem o mesmo efeito de sempre: privar o infrator de suas conexões sociais por algum tempo.

Pesquisa nos EUA, realizada pela Pew Internet em conjunto com o projeto American Life no início de 2010, indica que 62% dos pais disseram já ter confiscado o celular de seus filhos como punição.

Gilberto e Luciana, e seus filhos Rodrigo e Gustavo
Gilberto Amaral tem dois filhos, Rodrigo, de sete anos, e Gustavo, de quatro, ambos estudando em horário integral. Ao menor sinal de confusão, ele e sua esposa Luciana decretam: nada de Nintendo DS, Wii, ou computador.

— Quem sofre mais é o mais velho, pois em nosso prédio há uma lan house com micros e videogames e deixo ele ir muito pouco lá. Prefiro sempre que ele brinque com as outras crianças ― diz Gilberto, que, apesar de ser profissional de TI, deixa os meninos terem o mínimo de contato com o computador. ― Só deixo nos fins de semana, quando deixo...

Por ser do meio técnico, Gilberto sabe o quanto absorvem tempo essas diversões tecnológicas. A vida online de seus filhos se resume a cerca de 5% de seu tempo, período em que se conectam para jogar videogame Wii pela internet ou pelo site “Club Penguim”.

— Nesse site, além dos jogos, existe um quê de rede social ― observa. ― Mas eu diria que em 25% dos encontros físicos com outras crianças, meus filhos se dedicam a jogar videogames juntos seja na casa de algum deles ou no lan-house do prédio. Há também encontros fortuitos, por exemplo, em sala de espera de consultório médico ou em restaurantes. Nessas ocasiões, os meninos se conectam com as crianças próximas e jogam Nintendo DS online.

Muitas crianças, depois de um castigo digital, demoram um pouco para se recuperarem e “desarmarem a tromba”. Gilberto, nesse ponto, tem sorte.

— A memória deles é muito curta, para essa coisa de rancor ― esclarece. ― Assim, eles ficam felizes imediatamente ao recuperar os recursos que lhes foram tomados.

Quanto a punir seus filhos proibindo o celular, simplesmente não rola.

— Apesar de conhecermos crianças com menos idade que têm celular e nosso mais velho sempre nos pedir um, decidimos que ainda não é hora. Ou seja, nem temos como punir os meninos cortando celular ― conta Gilberto.

Os motivos que levam Gilberto e Luciana a aplicar castigos digitais normalmente têm a ver com desempenho escolar ― trabalhos de casa em dia, notas boas etc.

— Há também as mentiras, coisas do tipo dizer que escovou os dentes na escola e depois constatarmos que a escova não foi usada a semana inteira ― conta. ― O comportamento deles durante o uso dos gadgets também dá problema, pois eles sofrem, gritam e choram quando perdem. Aí, nesses casos, quando passa da medida eles ganham um tempo sem o aparelho, para acalmar.

Muitas vezes, proibir contato com mídias digitais e online vale como um período de “desintoxicação digital”, preservando um pouco as crianças e adolescentes da torrente de informações a que são submetidas nesses tempos tecnológicos atuais. Essa overdose é algo que impressiona dos pais, pois muitas vezes percebemo que os pequenos conhecem coisas que os pais ignoram. A troca de informações com colegas da escola e do condomínio faz com que as crianças fiquem bastante questionadoras e demandadoras.

— Meus filhos me bombardeiam o tempo todo. Posso ter celular? Pode me comprar o jogo novo “tal” que acabou de ser lançado? Papai, eu tenho email? Papai, porque não tenho Orkut? Pai, pode colocar no Google Earth que nós vamos lá fora dar tchau pra você nos ver no computador? Papai você me ensina a gravar os programas da Sky HD, porque o moço no comercial diz que a filha de 4 anos deles grava? Me ensina a enviar SMS? Seu celular tem joguinho? ― desabafa Gilberto. ― Outra coisa que notamos é a multitarefa e a ansiedade. Começam a fazer várias coisas ao mesmo tempo e já ficam pensando na próxima. Interessante também é que a capacidade para aprender coisas novas, como letras de música, línguas etc. ― é absurda. São umas esponjinhas sugando tudo que podem.
Os castigos hi-tech têm lá suas vantagens, pois, os filhos, depois que são liberados, muitas vezes manifestam certo alívio, desaceleração e calma causados pelo tempo que ficaram offline. Isso porque, durante a punição, eles são obrigados a se focar em atividades “analógicas”, que são em geral mais lentas.

Além disso, as punições tecnológicas possuem também um rico caráter educativo, especialmente quando aplicadas a crianças mais novas.

— O que falamos muito para os nossos filhos é que eles terão o resto de suas vidas na frente de um computador, pois ele passou a ser ferramenta usual de trabalho. Qualquer coisa em excesso faz mal, e o equilíbrio é fundamental. As coisas na vida têm sua hora certa — diz Gilberto, que reconhece ser um pai meio fora do comum, por não estimula as crianças com joguinhos educacionais de computador, nem opta por deixá-las horas diante da máquina.
Para ele e Luciana, hora de escola, do estudo ou do trabalho de casa são horas sagradas, assim como o tempo de brincar. Eles não tentam reproduzir o ambiente da escola em casa nem tampouco complementar o ensino com mais informações do que eles são capazes de absorver.

— Apesar de ser um gerente de TI, apaixonado por tecnologia e gadgets, acredito piamente que as relações interpessoais e “naturais” precisam acontecer como pano de fundo na formação das crianças — esclarece Gilberto.

Como pais de dois, ambos trabalhando fora, mas que sempre fazendo questão de participar efetivamente da vida dos filhos, o casal reconhece que cuidar das crianças dá muito trabalho, mas lhes parece correto cortar caminho através da omissão.

— A TV ou videogame não podem substituir os pais na formação das crianças. Os pais precisam ditar as regras e limites, estabelecendo horários, quantidades, e o que pode e o que não pode — explica. — Eventualmente, relegamos ao computador, televisão ou videogame o papel de babás temporárias, quando precisamos fazer algo e não podemos dar atenção às crianças, ou então quando as baterias começam a pifar.

Denise e sua filha Beatriz
Denise de Almeida Carvalho é mãe de Beatriz, de 12 anos, e garante que privar a filha do acesso ao notebook faz maravilhas pois, sem internet e joguinhos, a negociação flui muito melhor.

Trabalhando com TI numa grande estatal, Denise é do ramo e conhece bem os limites que impõe à filha, além de saber muito bem onde dói a abstinência forçada. E, justamente por saber dosar a intensidade tecnológica da vida de Beatriz, a adolescente passa em geral apenas 20% de seu tempo grudada no computador.

— Depois que aplico um castigo tech, demora um pouco para ela se recuperar. Faz uma certa tromba — conta Denise. — Até que ela tenta disfarçar, mas a tromba só acaba mesmo quando termina o castigo.
Quanto ao celular, Denise considera o aparelho como um item de segurança, uma ferramenta que lhe dá sossego e, de certa forma, lhe permite estabelecer certo controle sobre o paradeiro da filha. Por esses motivos, celular, pelo menos até agora, não faz parte da lista de castigos.

— Para mim, as infrações mais comuns que motivam a aplicação desses castigos digitais são queda no rendimento escolar e bagunça no quarto — esclarece.

Denise vê novos hábitos em sua filha e nas colegas dela na forma com que digerem o excesso de informações online e via TV. Ela acredita que os mais novos estão mais preparados para lidar com esta multiplicidade de conteúdo, incluindo uma habilidade maior de fazer várias atividades ao mesmo tempo.

— Porém, tomo algum cuidado quando aplico essas penalidades informáticas, pois vejo nas crianças em geral, um pouco de dificuldade na classificação de relevância dos assuntos, na apuração da sua veracidade de fato, no caráter descartável da informação, e, consequentemente, na sua não transformação em conhecimento — pondera Denise.

Gustavo e seu filho Matheus
Gustavo Guimarães é pai de Matheus, de 10 anos, um menino que ainda não tem o hábito de substituir o contato real pelo virtual, como fazem as crianças um pouco mais velhas. Porém, por ter um blog, o menino curte os novos amigos que surgem com frequência pela caixa de e-mail, já que Gustavo desabilitou os comentários no blog..

Para Gustavo, a gravidade da infração define o tipo de pena aplicada.

— Uma resposta atravessada pode gerar uma desconexão da internet, mas mantendo os privilégios de acesso ao computador. Neste caso, ele fica limitado aos joguinhos locais que vêm com o Windows, e que, convenhamos, são bem sem graça — conta Gustavo. — Já uma malcriação mais séria expande a pena ao hardware propriamente dito. Além do computador, veto também os videogames. Agora, uma recusa em reconhecer o erro e se desculpar com os envolvidos termina por abranger os demais equipamentos do quarto, que são a TV, NET e DVD. Em casos assim, resta a ele se isolar no quarto, ou assistir telejornais na sala, o que pra ele equivale à tortura em que o protagonista é submetido no filme Laranja Mecânica.

Celular não é problema, pois Matheus ainda não tem um. Mas bem que gostaria de ter e anda pedindo.

— Eu ainda não dei por causa do argumento que ele usa para me pedir, alegando que quer porque todos seus amigos já têm celular — decreta Gustavo. — Eu explico que ele não deve solicitar algo porque outros o possuem, e pedi que, quando tivesse um argumento mais sólido, que voltássemos a conversar. Se ele ainda não o fez, é porque não sente falta de verdade no aparelho.

A ideia de Gustavo, quando der a Matheus um celular, será optar por um pequeno smartphone, pois deixaria ligado o Google Latitude, que lhe permitiria saber onde o filho estará, em tempo real.
Por ter uma vida online bastante ativa, Matheus sofre bastante com castigos que lhe privem desse meio de se comunicar.

— O isolamento offline causa nele uma aflição grande, porque ele pensa no prejuízo a que seus jogos online estão sendo submetidos, como é o caso do joguinho da fazenda, em que as colheitas que não estão sendo feitas, os produtos que estão sendo roubados por outros participantes, e principalmente no provável decréscimo de seu usuário no ranking de sucesso dos jogos — conta Gustavo. — Este ranking tem hoje um peso impressionante no fator popularidade entre seus iguais. O que é um gol marcado por um colega de classe habilidoso com a bola, visto apenas por quem estava presente no momento do lance no futebol da escola, em comparação ao primeiro lugar de uma lista visível por toda sua rede de amigos do colégio, que jogam o mesmo jogo? Sim, o glamour da clássica exibição pessoal se perdeu, mas o que sobrou tem um alcance hoje em dia consideravelmente maior.

No âmbito das redes sociais, Matheus frequenta só o Orkut. E o pai nunca precisou forçar o menino a aceitá-lo como “amigo” no site, como expediente para manter o controle das andanças do filho.

— Nunca precisei disso, porque quem controla a conta dele sou eu. Quem aceita e recusa as novas amizades dele sou em, com ele ao lado, claro — conta Gustavo. — A intenção é sempre fazê-lo entender as razões, nunca censurar por censurar. Hoje em dia ele mesmo fala “esse aqui eu nunca vi antes, pode recusar”.
A transparência de Gustavo com Matheus é muito positiva. Mas muitos pais, para castigar o filho isolando-o temporariamente em um site de rede social é simplesmente mudam a senha. Mas mesmo isso requer cuidado pois, se o filho for esperto, ele pode instalar um keylogger (programa que registra as teclas digitadas no teclado) e capturar a senha nova escolhida pelos pais ou responsáveis.
Mas a vida de Gustavo e Matheus é às vezes pautada pela tecnologia. Às vezes até as relações entre eles depende em parte de ferramentas online.
— Lembro de quando ele me pediu desculpas pelo Orkut pra não ter que me encarar, e quando de eu percebi que estamos ficando dois nerds quando um reclamou do outropelo MSN.

Castigo Funciona?


.......Nossos filhos não são nossos filhos,
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma,
Vêm através de nós, mas não de nós,
E embora vivam conosco, não nos pertencem.
Podemos outorgar-lhes nosso amor, mas não nossos pensamentos,
Podemos abrigar seus corpos, mas não suas almas;
Podemos esforçar-nos para sermos como eles, mas não podemos fazê-los como nós.
.......Somos os arcos dos quais nossos filhos são arremessados como flechas vivas,
Que nosso encurvamento nas mãos do arqueiro, seja nossa alegria.
(Khalil Gibran)

Há uma enorme diferença entre adquirir disciplina por identificação àqueles a quem se ama, e tê-la imposta autoritariamente.  O que as crianças aprendem com o castigo severo,  é que o poder faz a justiça e quando forem grandes e fortes o suficiente, tentarão  compensar suas mágoas punindo os pais, agindo de maneira a desgostá-los.
Cada criança reage de maneira diferente aos castigos impostos, dependendo de sua personalidade e, sobretudo da natureza de sua relação com os pais, mas não há criança que punida muito severamente, escape ao sentimento de humilhação. Pode aprender a esconder suas atitudes e quanto mais severo o castigo, mais dissimulada ela poderá se tornar.
É comum que os pais tenham dificuldade em ver o filho como uma pessoa separada, com sua personalidade própria, características próprias, por mais parecido que seja física ou no aspecto de temperamento, com o pai ou com a mãe. O filho é ele próprio, com suas características, e é preciso respeitá-lo acima de tudo. Filho não é posse dos pais, assim como também não é boletim dos pais. Há muitas vezes um desejo que até pode ser inconsciente, de que os filhos espelhem as qualidades dos pais, assim como pode também haver um desagrado muito grande pelos defeitos que se repetem. É importante ressaltar que muitas vezes é provável que vá existir conflito, uma vez que, inevitavelmente os pais frustrarão seus filhos em algum momento. Os pais têm que ajudar a criança a lidar com perdas e com uma realidade limitada.
Mas o que fazer com crianças muito pequenas, que ainda não são capazes de compreender uma conversa e que agem muito mais movidas por instintos? Às vezes os pais precisam colocar limites, segurando-a ou tirando-a de perto, para que pare de mexer na bolsa da mamãe, ou puxar o rabo do cachorro. O que não é certo é deixar a sala vazia de enfeites, por exemplo, quando se tem crianças pequenas. Muitas vezes frustrar uma criança pode ser um ato de amor. Mais tarde ela terá que saber enfrentar as frustrações que a vida civilizada impõe! Uma criança sabe quando o castigo é justo e isto pode provocar raiva na hora, mas não provoca rancor.
Todos sentimos raiva, e é importante que possamos suportar as manifestações de raiva dos nossos filhos. Isso não quer dizer que possa quebrar coisas ou dar chutes, mas que fique brava é muito natural. Assim como os pais também podem ficar bravos e ter raiva da criança que não está obedecendo. Mais tarde quando a criança já está maior, e faz algo que desagrada os pais, manda-la pensar no quarto durante alguns minutos (variando esses minutos dependendo da idade da criança), pode ser uma atitude muito amorosa. A criança vai ficar sozinha, triste, e mais tarde o pai, ou a mãe, deverá ir lá para saber o que foi que ela pensou. Aí então, talvez até haja condições de se ter uma conversa.
A criança vai aos poucos se  identificando e internalizando os valores dos pais, uma vez que a melhor maneira de ser amado por eles é fazer o que eles aprovam. A única disciplina efetiva é a autodisciplina, motivada pelo desejo interior de agir de maneira a ser agradável aos pais. Se na relação da criança com seus pais, prevalece o amor, ela vai querer viver em certa harmonia com eles o que mais tarde vai corresponder a ficar bem a seus próprios olhos, de acordo com seus próprios valores, de maneira a sentir-se bem consigo mesmo – ter uma “boa consciência”. Isso se fundamenta em valores que internalizamos porque amamos, admiramos e desejamos ser amados por essas pessoas que significam tanto para nós.
Quando uma criança é freqüentemente agredida e desrespeitada, ela pode aprender a responder na mesma medida, e como ela não pode bater nos próprios pais, porque é mais fraca, ela vai fazer tudo para desagradá-los, e isso criará dentro dela mesma, uma auto- imagem de que ela é má, que ela tem algo de errado e que não merece ser amada. Isso vai se tornar um círculo vicioso, que resultará num profundo ferimento da auto estima.
É importante que os pais possam tratar os erros dos filhos, como o que realmente são, e não como catástrofes. A criança pode ter feitouma coisa realmente muito errada, mas isso não significa que ela é errada. Existe uma diferença! Se eu digo: “Isso que você fez, meu filho, é uma besteira, por isso e por aquilo, etc.”;  é diferente de dizer: ”- Você é um idiota”.
Essas coisas são muito complexas, porque um pai que se sente um “idiota”, ou seja, que tem, ele mesmo, uma auto-estima muito rebaixada, pode projetar todo esse seu sentimento de desvalia no próprio filho, produto seu, e então o filho também não vai prestar a seus olhos. Esse sentimento do pai é dia por dia assimilado pelo filho que também vai se sentir muito desvalorizado.
Um pai que foi educado muito severamente pode ou fazer o mesmo com o filho, numa espécie de vingança, ou então pode ocorrer uma outra coisa tão prejudicial quanto, que é o pai dar tudo o que não pode ter a seu filho e vingar-se por assim dizer do próprio pai, projetando-se no filho e super mimando a criança tornando-a incapaz de se frustrar.
Estamos falando da qualidade da relação entre pais e filhos. Os pais devem olhar para dentro de si e se questionarem se estão orgulhosos de si mesmos, pois  isso os tornará capazes de amar seus filhos respeitando tanto seus sucessos como também suas dificuldades.
Não é só a consciência que nos diz para não agir errado porque podemos ser castigados. A consciência efetiva nos motiva a agir certo, porque sabemos que de outra forma sofreremos toda a dor, tristeza e remorso de nos sentirmos mal com nossos próprios valores.
Apesar de nossos sentimentos interiores serem o que há de mais importante nesse aspecto, existem também alguns ingredientes externos que apóiam nossa capacidade de nos respeitar. Ou seja: o desejo de ganhar e preservar a estima de outras pessoas cuja opinião valorizamos. Se não damos valor à visão positiva que têm de nós, então o que pensam não terá a mínima importância. Assim, o objetivo dos pais, deve ser o de fortalecer o amor próprio de uma criança e torná-lo tão forte e relevante que impedirá pela vida toda, que o jovem aja erradamente.
A voz da razão precisa ser cuidadosamente cultivada e mostrada de maneira atraente para as crianças, de maneira que possa ser ouvida. Não é gritando que a criança vai ouvir.  Nossa tarefa é criar uma situação em que a razão possa ser ouvida  com voz macia e considerada com atenção.
É muito vantajoso para todos pensar que quando se está irritado, não se raciocina.  É claro que todos os pais, ficam por vezes irritados com os filhos. Muitas vezes deixar para conversar depois que a emoção do momento já tenha passado, pode ser uma solução, quando se vai perder a cabeça.
Não é fácil escrever um artigo sobre castigo, e também é importante saber que o que importa é que os pais sejam suficientemente bons, sabendo que ninguém é perfeito e que muitas vezes os pais também não são capazes de controlar seus sentimentos inconscientes. Por isso, quando esta tarefa está muito difícil, é preciso pedir ajuda a um profissional que poderá ver com mais neutralidade toda a situação e esclarecer o que for preciso.
Um trabalho de orientação de pais às vezes pode ser útil para evitar que a criança apresente problemas mais tarde.