terça-feira, 24 de setembro de 2013

Castigo Funciona?

Há uma enorme diferença entre adquirir disciplina por identificação àqueles a quem se ama, e tê-la imposta autoritariamente.  O que as crianças aprendem com o castigo severo,  é que o poder faz a justiça e quando forem grandes e fortes o suficiente, tentarão  compensar suas mágoas punindo os pais, agindo de maneira a desgostá-los.

Cada criança reage de maneira diferente aos castigos impostos, dependendo de sua personalidade e, sobretudo da natureza de sua relação com os pais, mas não há criança que punida muito severamente, escape ao sentimento de humilhação. Pode aprender a esconder suas atitudes e quanto mais severo o castigo, mais dissimulada ela poderá se tornar.
É comum que os pais tenham dificuldade em ver o filho como uma pessoa separada, com sua personalidade própria, características próprias, por mais parecido que seja física ou no aspecto de temperamento, com o pai ou com a mãe. O filho é ele próprio, com suas características, e é preciso respeitá-lo acima de tudo. Filho não é posse dos pais, assim como também não é boletim dos pais. Há muitas vezes um desejo que até pode ser inconsciente, de que os filhos espelhem as qualidades dos pais, assim como pode também haver um desagrado muito grande pelos defeitos que se repetem. É importante ressaltar que muitas vezes é provável que vá existir conflito, uma vez que, inevitavelmente os pais frustrarão seus filhos em algum momento. Os pais têm que ajudar a criança a lidar com perdas e com uma realidade limitada.
Mas o que fazer com crianças muito pequenas, que ainda não são capazes de compreender uma conversa e que agem muito mais movidas por instintos? Às vezes os pais precisam colocar limites, segurando-a ou tirando-a de perto, para que pare de mexer na bolsa da mamãe, ou puxar o rabo do cachorro. O que não é certo é deixar a sala vazia de enfeites, por exemplo, quando se tem crianças pequenas. Muitas vezes frustrar uma criança pode ser um ato de amor. Mais tarde ela terá que saber enfrentar as frustrações que a vida civilizada impõe! Uma criança sabe quando o castigo é justo e isto pode provocar raiva na hora, mas não provoca rancor.
Todos sentimos raiva, e é importante que possamos suportar as manifestações de raiva dos nossos filhos. Isso não quer dizer que possa quebrar coisas ou dar chutes, mas que fique brava é muito natural. Assim como os pais também podem ficar bravos e ter raiva da criança que não está obedecendo. Mais tarde quando a criança já está maior, e faz algo que desagrada os pais, manda-la pensar no quarto durante alguns minutos (variando esses minutos dependendo da idade da criança), pode ser uma atitude muito amorosa. A criança vai ficar sozinha, triste, e mais tarde o pai, ou a mãe, deverá ir lá para saber o que foi que ela pensou. Aí então, talvez até haja condições de se ter uma conversa.
A criança vai aos poucos se  identificando e internalizando os valores dos pais, uma vez que a melhor maneira de ser amado por eles é fazer o que eles aprovam. A única disciplina efetiva é a autodisciplina, motivada pelo desejo interior de agir de maneira a ser agradável aos pais. Se na relação da criança com seus pais, prevalece o amor, ela vai querer viver em certa harmonia com eles o que mais tarde vai corresponder a ficar bem a seus próprios olhos, de acordo com seus próprios valores, de maneira a sentir-se bem consigo mesmo – ter uma “boa consciência”. Isso se fundamenta em valores que internalizamos porque amamos, admiramos e desejamos ser amados por essas pessoas que significam tanto para nós.
Quando uma criança é freqüentemente agredida e desrespeitada, ela pode aprender a responder na mesma medida, e como ela não pode bater nos próprios pais, porque é mais fraca, ela vai fazer tudo para desagradá-los, e isso criará dentro dela mesma, uma auto- imagem de que ela é má, que ela tem algo de errado e que não merece ser amada. Isso vai se tornar um círculo vicioso, que resultará num profundo ferimento da auto estima.
É importante que os pais possam tratar os erros dos filhos, como o que realmente são, e não como catástrofes. A criança pode ter feitouma coisa realmente muito errada, mas isso não significa que ela é errada. Existe uma diferença! Se eu digo: “Isso que você fez, meu filho, é uma besteira, por isso e por aquilo, etc.”;  é diferente de dizer: ”- Você é um idiota”.
Essas coisas são muito complexas, porque um pai que se sente um “idiota”, ou seja, que tem, ele mesmo, uma auto-estima muito rebaixada, pode projetar todo esse seu sentimento de desvalia no próprio filho, produto seu, e então o filho também não vai prestar a seus olhos. Esse sentimento do pai é dia por dia assimilado pelo filho que também vai se sentir muito desvalorizado.
Um pai que foi educado muito severamente pode ou fazer o mesmo com o filho, numa espécie de vingança, ou então pode ocorrer uma outra coisa tão prejudicial quanto, que é o pai dar tudo o que não pode ter a seu filho e vingar-se por assim dizer do próprio pai, projetando-se no filho e super mimando a criança tornando-a incapaz de se frustrar.
Estamos falando da qualidade da relação entre pais e filhos. Os pais devem olhar para dentro de si e se questionarem se estão orgulhosos de si mesmos, pois  isso os tornará capazes de amar seus filhos respeitando tanto seus sucessos como também suas dificuldades.
Não é só a consciência que nos diz para não agir errado porque podemos ser castigados. A consciência efetiva nos motiva a agir certo, porque sabemos que de outra forma sofreremos toda a dor, tristeza e remorso de nos sentirmos mal com nossos próprios valores.
Apesar de nossos sentimentos interiores serem o que há de mais importante nesse aspecto, existem também alguns ingredientes externos que apóiam nossa capacidade de nos respeitar. Ou seja: o desejo de ganhar e preservar a estima de outras pessoas cuja opinião valorizamos. Se não damos valor à visão positiva que têm de nós, então o que pensam não terá a mínima importância. Assim, o objetivo dos pais, deve ser o de fortalecer o amor próprio de uma criança e torná-lo tão forte e relevante que impedirá pela vida toda, que o jovem aja erradamente.
A voz da razão precisa ser cuidadosamente cultivada e mostrada de maneira atraente para as crianças, de maneira que possa ser ouvida. Não é gritando que a criança vai ouvir.  Nossa tarefa é criar uma situação em que a razão possa ser ouvida  com voz macia e considerada com atenção.
É muito vantajoso para todos pensar que quando se está irritado, não se raciocina.  É claro que todos os pais, ficam por vezes irritados com os filhos. Muitas vezes deixar para conversar depois que a emoção do momento já tenha passado, pode ser uma solução, quando se vai perder a cabeça.
Não é fácil escrever um artigo sobre castigo, e também é importante saber que o que importa é que os pais sejam suficientemente bons, sabendo que ninguém é perfeito e que muitas vezes os pais também não são capazes de controlar seus sentimentos inconscientes. Por isso, quando esta tarefa está muito difícil, é preciso pedir ajuda a um profissional que poderá ver com mais neutralidade toda a situação e esclarecer o que for preciso.
Um trabalho de orientação de pais às vezes pode ser útil para evitar que a criança apresente problemas mais tarde.

.......Nossos filhos não são nossos filhos,
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma,
Vêm através de nós, mas não de nós,
E embora vivam conosco, não nos pertencem.
Podemos outorgar-lhes nosso amor, mas não nossos pensamentos,
Podemos abrigar seus corpos, mas não suas almas;
Podemos esforçar-nos para sermos como eles, mas não podemos fazê-los como nós.
.......Somos os arcos dos quais nossos filhos são arremessados como flechas vivas,
       Que nosso encurvamento nas mãos do arqueiro, seja nossa alegria.
                                                                                     (Khalil Gibran)

Cuidado especial com privacidade protege crianças na Internet; veja dicas

A Internet é repleta de conteúdo impróprio para crianças, mas isso não elimina o fato de que os pequenos estão cada vez mais conectados. Entretanto, sem o olhar mais atento de um adulto, as crianças acabam sendo um alvo fácil para armadilhas virtuais de todos os tipos. 
Mas não é preciso (e nem possível) privar os menores de acessar a rede que, afinal de contas, tem muitas ferramentas úteis para eles. Alguns cuidados podem e devem ser tomados para fornecer um ambiente seguro para a navegação das crianças na Internet.
TechTudo listou as melhores dicas da Norton, fabricante de antivírus, para crianças:
Crianças brincam com Yoomi Duo no iPad. (Foto: Divulgação)Crianças brincam no iPad, acesso à Internet requer cuidados dos pais (Foto: Divulgação)
1. Converse com as crianças sobre cibercrime
Pode parecer óbvio, mas muitos pais não falam sobre cibercrimes com seus filhos, muitas vezes por considerar que as crianças usam a Internet melhor que eles próprios. Se este for o seu caso, informe-se antes sobre os melhores procedimentos para uma navegação segura. Há dicas valiosas em e-books ou artigos voltados especificamente para web o Facebook.
É importante que, na hora da conversa, o responsável deixe passe tranquilidade e deixe claro que não castigará caso ocorra algum deslize na web. Desta forma, a criança se sentirá mais seguro para lhe contar quando tiver infectado sem querer o computador com algum malware.
2. Ensine seu filho a se deslogar de qualquer sistema
Grande parte do cyberbullying é cometido por amigos ou familiares, geralmente irmãos, com acesso à conta da criança no mesmo computador. Para evitar isso, ensine seus filhos a finalizarem a sessão de qualquer sistema em que estiverem logados. Seja rede social, site de jogos ou web e-mail. Da mesma forma, instrua-o a não compartilhar senhas com ninguém.
Crianças e redes sociais (Foto: Reprodução)Crianças e redes sociais, é bom configurar a privacidade (Foto: Reprodução)
3. Altere as configurações de privacidade da rede social
Crianças e adolescentes tendem a compartilhar muitas informações pessoais no Facebook e outras redes sociais. Peça para seu filho acessar as configurações de privacidade da conta e, junto com ele, crie restrições. Ao fazer as limitações, como tornar fotos visíveis apenas para amigos, por exemplo, explique as razões e consequências benéficas desses atos. De tempos em tempos, verifique com ele se as configurações permanecem inalteradas e seguras.
4. Ensine a criança a desconfiar dos links
Navegar pela web é garantia de se deparar com uma infinidade de links, muitos deles maliciosos. Não clique e ensine seu filho a fazer o mesmo em links de sites que você não confia e não abra e-mails de destinatários desconhecidos ou de propaganda não solicitada. Peça para que a criança, ao receber conteúdo suspeito, confirme com o amigo, através de outro meio de comunicação, se foi ele mesmo ou serviço quem mandou a mensagem.
Cuidado especial com privacidade protege crianças na Internet (Foto: Reprodução) (Foto: Cuidado especial com privacidade protege crianças na Internet (Foto: Reprodução))Cuidado especial com privacidade protege crianças na Internet (Foto: Reprodução)
5. Tenha um bom software de segurança
Ainda de acordo com a Norton, todas as dicas acima só irão funcionar se, simultaneamente, seu computador estiver protegido com um bom software de segurança. Muitos programas contam, inclusive, com ferramentas de controle dos pais, que facilitam estabelecer o limites de tempo online e bloqueiam sites com conteúdo impróprio, violento e sexual para menores.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Saiba como prevenir-se do abuso sexual em crianças

Segundo a ONG Safernet, atualmente são feitas 500 denúncias por dia de exploração da pornografia infantil na Internet. O crime agora virou objeto de CPI criada pelo Senado Federal.
O abuso sexual às crianças acontece na família, principalmente através de pai, padrasto, irmão ou outro parente, e depois pessoas ligadas a esse núcleo.
É importante observá-los, muitas vezes por falta de trabalho ficam muito próximos às crianças. Mas a casa de amigos, vizinhos, professor, padre, pastor podem ser locais onde o abuso pode acontecer.
Nos casos de abuso sexual a criança é forçada fisicamente ou coagida verbalmente a participar da prática sexual sem ter ainda sua capacidade emocional e/ou cognitiva suficientemente desenvolvida para consentir, negar ou julgar o que está acontecendo.
Abuso sexual
O abuso sexual ocorre em todas as classes sociais. E é definido como qualquer conduta sexual que ocorra com uma criança por parte de um adulto ou por outra criança mais velha. Em geral entre 3 e 4 anos mais velha, já se fala em abuso. Pode ocorrer por contato oral-genital (na criança ou no adulto), o esfregar/roçar os genitais do adulto na criança, toques nos genitais da criança ou coerção para que a criança toque os genitais do adulto ou de outra criança mais velha ou adolescente, ou chegar à penetração vaginal ou anal na criança. Mas outras atitudes como mostrar os genitais a uma criança, incitá-la a ver material pornográfico, ou utilizá-la para elaboração de material de natureza pornográfica também é crime.
Assusta ver que pessoas tão próximas possam ser autoras de crimes contra nossas crianças. Mais assustador ainda é sabermos que o número de abusos sexuais em crianças denunciado nas estatísticas, é bem inferior à realidade dos fatos. Isso ocorre pois a maioria desses casos não é conhecida. As crianças têm medo de contar o que aconteceu, pois em geral são ameaçadas por quem abusou e temem - muito - represálias, principalmente se for da família. Elas ficam confusas e temerosas de contar o fato com medo de serem consideradas culpadas.
Há também o medo que a família desintegre-se. Apesar da agressão do abuso, esse núcleo familiar é a única referência de sua vida.
O dano emocional e psicológico resultante dessas experiências tende a ser muito prejudicial à vida emocional e sexual futura. Poderão surgir problemas sérios de comportamento como dificuldade em estabelecer vínculos de confiança e relações estáveis com outras pessoas. Poderão surgir problemas de marginalidade, tornarem-se adultos abusadores e direcionarem-se à prostituição.
Identifique a ocorrência de abuso
- Alterações bruscas no comportamento, no apetite ou no sono;

- Desejo repentino da criança em se manter isolada, evitando contato com amiguinhos e familiares;

- A criança se mostrar agitada, muito incomodada e perturbada quando há possibilidade de ficar no mesmo local com uma determinada pessoa;

- Medo desproporcional frente à necessidade de um exame físico;

- Começar a achar que têm o corpo sujo ou contaminado;

- Interesse excessivo ou evitação no contato com seus genitais;

- Rebeldia, agressividade excessiva;

- Podem chegar a um comportamento suicida ou de automutilação.
Por isso é necessária muita atenção no sentido de protegê-las.

Prevenção
Família e escola precisam ter atitudes preventivas no sentido de evitar ou extirpar a ocorrência de abusos.

Para muitos é estranho ter que falar sobre sexualidade com as crianças, mas é importante saber que não temos que estimular a sexualidade, mas sim ensinar a criança a gostar de seu corpo e aprender a respeitá-lo, cuidando de sua saúde, higiene e evitando acidentes, como por exemplo, não se
machucar com objetos cortantes.
Para isso é necessário que a criança tenha um vínculo de confiança com essa pessoa que orienta e saiba que poderá procurá-la para perguntar ou contar algo sem tomar ‘bronca’ ou ser criticada.

Explique à criança que o corpo dela precisa ser cuidado por ela e que ela deve ser cuidadosa e desconfiar se alguém tentar tocá-lo, inclusive as partes íntimas; ou ainda pedir para fazer coisas no seu corpo ou no de outra pessoa, que não seja brincar junto com todo mundo.
É preciso orientar a criança que se afaste dessa pessoa e procure a mãe, irmã mais velha, uma avó ou a professora e conte o que aconteceu. Orientar as crianças para não terem vergonha e se preciso até gritar ou correr em situações em que sintam-se ameaçadas.
Os adultos precisam ser respeitados, mas isso não significa que as crianças tenham que obedecer e fazer tudo que eles mandam. Principalmente se isso envolver tocar, manipular, beijar ou machucar o corpo e se a criança não se sentir bem.
O velho ensinamento de não aceitarem convite por dinheiro, presente ou agrado, de quem conhecem ou não, para fazerem ‘coisas’ com o corpo é fundamental.
É difícil em muitas situações evitar o abuso sexual, devido à proximidade do abusador. Não receie pedir que outros adultos ajudem a olhar as crianças.

Procure conhecer os amigos de seus filhos e suas famílias e também estimule as crianças a não ficarem isoladas, procurando ficar em grup
o. 

Crianças sofrem chantagem para praticar atos sexuais online, diz ONG

  • BBC
    Vítimas acabam sendo intimidadas após mandar fotos online
Centenas de crianças e adolescentes ao redor do mundo têm sofrido chantagem para praticar atos sexuais e compartilhar fotos pornográficas pela internet, alega um relatório divulgado nesta sexta-feira pela ONG britânica Centro contra a Exploração de Crianças e de Proteção Online (Ceop).
Os abusadores, diz a ONG, convencem suas vítimas a enviar fotos de si mesmas com teor sexual. Feito isso, ameaçam mandar as imagens para pais e amigos das vítimas caso estas se recusem a continuar a conversa online.
Andy Baker, porta-voz da Ceop, diz que a organização já teve conhecimento de casos do tipo envolvendo 424 jovens e crianças ao redor do mundo - algumas de oito anos de idade.
A chantagem, segundo ele, já levou sete crianças a cometer suicídio e outras sete a se autoflagelar seriamente.

'Lado escuro'

Os abusadores geralmente iniciam a conversa se fingindo de crianças ou de pessoas do gênero oposto das vítimas.
O relatório da Ceop diz que as conversas começam em sites abertos ou redes sociais e logo são levadas a fóruns privados, "onde ganham teor sexual".
"(O abuso) avança rapidamente", diz Baker à BBC, alegando que em menos de cinco minutos o abusado online "vai de 'oi, você quer tirar sua roupa' a alguém cometendo autoflagelo".
Uma vez que as vítimas enviam imagens sexuais de si mesmas, a chantagem começa, com pedidos de mais fotos de teor sexual - algumas envolvendo autoflagelo - ou até mesmo pedidos de somas em dinheiro, sob a ameaça de as imagens comprometedoras serem enviadas a conhecidos da vítima.
Em um dos casos, um dos acusados de abusos chegou a arquivar as imagens pornográficas que recebia de crianças em uma pasta nomeada "escravos".

Operação K

Entre os 424 jovens e crianças que sofreram chantagem, 322 deles – principalmente meninos entre 11 e 15 anos, oriundos de todo o mundo – foram descobertos em uma única investigação neste ano, chamada de Operação K.
Os criminosos usavam mais de 40 perfis falsos online e outros tantos endereços de e-mail para perpetrar os abusos, diz a Ceop.
O esquema foi descoberto por autoridades britânicas depois que uma rede social identificou atividades suspeitas e uma criança avisou seus pais.
Na Grã-Bretanha, o assunto ganhou especial relevância em agosto, após o suicídio de um garoto de 17 anos vítima de chantagens.
Daniel Perry pensava estar trocando mensagens e fotos com uma menina de sua idade, até que os abusadores pediram dinheiro para não tornar essas imagens públicas. Ele acabou se jogando de uma ponte.
Logo após sua morte, sua mãe disse que ele era "um menino feliz, não estava deprimido, e não era o tipo de pessoa que você pensaria que iria tirar a própria vida. Queria que ele tivesse me procurado (e contado o ocorrido)".

Prevenção

É importante que pais eduquem a si mesmos e a seus filhos a respeito de configurações de privacidade e denúncias de eventuais abusos na internet, adverte Scott Freeman, fundador da ONG antibullying online Cybersmile.
Segundo ele, é importante que as crianças e jovens entendam que não devem falar com pessoas que não conhecem e não devem passar "de plataformas públicas a privadas".
Por outro lado, Freeman opina que os provedores de internet precisam ser mais proativos para coibir abusos, ressaltando que alguns "já começam a adotar procedimentos do tipo".
A Ceop, por sua vez, adverte que os jovens vítimas de abusos online podem, além de ter mais propensão a se autoflagelar, se tornar mais agressivas e introspectivas.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Dicas para os pais do século XXI

Dicas para os pais do século XXI
Nascer, crescer, constituir família, envelhecer e ter o privilégio de ver os descendentes reiniciar o ciclo. Assim é a vida, um constante evoluir e transformar. Somos partes integrantes deste organismo vivo no qual somos inseridos desde que nascemos: as sociedades com seus costumes, valores morais, sociais e religiosos.
Ao observar a passagem dos tempos vemos, claramente, que os anos se incumbiram de mudar a compreensão do que é ser pai e a importância deste papel. O conceito do que é ser o “paizão” do século XXI em nada se parece com a idéia que tínhamos do pai austero e enérgico do passado. O pai que disciplinava os filhos com apenas um olhar, cedeu lugar ao pai camarada e, por vezes, mais flexível.
Com a maior participação feminina no mercado de trabalho, a dinâmica dos casais na criação dos filhos apresentou, sob determinado ponto de vista, um salto qualitativo, uma vez que os homens passaram a se envolver mais diretamente com tarefas que antes eram consideradas do domínio feminino. Tal mudança permitiu aos homens se aproximar mais dos filhos, do ponto de vista físico e emocional, deixando de ser, apenas, o pai provedor.
No entanto penso que “Ser Pai” envolve habilidades tão complexas como as de ser mãe. E infelizmente, não recebemos treinamento formal para desempenhar nenhum dos papeis – seja ele ser pai ou ser mãe!
Em geral, a primeira lição do que é ser pai ou ser mãe acontece apenas quando nos tornamos pais. E a frase clichê escorrega por entre os lábios sem que a gente perceba ou consiga impedir: “Hum… Agora sim eu começo a entender meu pai!”.
Ah, quem já não experimentou esta emoção forte e sentiu os olhos se encherem de lágrimas de agradecimento e respeito aos “velhos pais” ao segurar o filho ou a filha que acabou de nascer?! O coração bate forte e a vida que ali se inicia parece trazer consigo o antigo manual “ser pai”, com apenas algumas poucas atualizações!
Sob a luz dos novos conhecimentos nas áreas sociais, psicológicas e filosóficas, se tivéssemos a oportunidade de refinar as habilidades para ser pai, eu incluiria alguns tópicos que julgo ser imprescindíveis:
1 – Aprendemos por imitação – Estudos ligados à mente e a psicologia nos mostram que a natureza humana age por imitação. Costumes, valores morais, sociais, idéias, músicas, moda, enfim, tudo nós copiamos. Crianças não são diferentes e agirão por imitação. Eles são como esponjas e observam tudo. Portanto, preste muita atenção ao que diz e faz, principalmente quando estiver na presença dos filhos, e pense a respeito do tipo de exemplo que deseja dar. A educação é silenciosa!
2 – Evite críticas diretas à criança e coloque o foco no comportamento – As crianças precisam saber que são amadas e respeitadas. Portanto, é importante reforçar a idéia de que a amamos. Especialmente nos momentos em que reprovamos um determinado comportamento. Por exemplo, podemos dizer: “Amo muito você, mas o seu comportamento pode mudar e melhorar!” Ao mesmo tempo, as crianças precisam não somente ser ensinadas o que é certo ou errado de acordo com os códigos sociais e éticos de onde vivemos, mas também é importante que os pais demonstrem e vivam sob os mesmos princípios.
3 – Estabeleça limites – Como hora de dormir, brincar e estudar. Desta forma eles compreenderão que são amados e saberão que alguém se importa com eles. Mesmo que se rebelem contra as regras, saberão que têm pais presentes e que os ama.
4 – Divirta-se com as crianças – Ser pai envolve grande responsabilidade, mas também pode e deve ser divertido. Mostre as crianças que você curte ser pai. Não permita que outras responsabilidades ou interesses o impeça de passar tempos preciosos com seus filhos. Se não o fizer enquanto são jovens, depois será muito mais difícil estabelecer laços de intimidade.
5 – Ouça se quiser ser ouvido – Demonstre interesse pelo seu filho e se envolva na vida dele. Ouça o que ele tem a dizer. Crie um ambiente onde ele se sinta confortável de vir até você com um problema pequeno ou grande.
E para finalizar, se tudo ficar muito complicado e difícil. Respire fundo, conte até 1000, invista na habilidade de ter muita paciência e compreensão de que vida, a partir do dia em que você se tornou pai, passou a ser a respeito dele e não você! A verdade é que pais e mães vivem para os filhos!

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Os desafios da adolescência

Alexandre Carvalho/Fotoarena
Mariângela e o filho João, de 15 anos: acompanhamento e caronas para as festinhas
Depois de noites maldormidas porque seu filho queria mamar ou fez xixi na cama, chega a adolescência e os motivos das noites maldormidas são substituídos: preocupar-se com o paradeiro dele ou buscá-lo em festinhas durante a madrugada são alguns. Pelo menos é o que a agente de viagens Mariângela Pinto Ferreira, de 50 anos, faz atualmente por seu filho João, de 15: ela prefere levá-lo e buscá-lo nas festas para, entre outros motivos, estar mais próxima a ele. Esta proximidade, nesta fase, é mais necessária do que alguns pais podem imaginar. E deve estar permeada de conversas e esclarecimentos. 
As alterações físicas e comportamentais da adolescência aumentam as possibilidades de conflitos entre pais e filhos dentro de casa e, além disso, podem deixar os pais tão preocupados a ponto de não saberem como agir. Com a exposição e proximidade dos adolescentes ao sexo e às drogas, circunstâncias que amedrontam a maioria dos pais, além das diversas dificuldades potenciais do ambiente escolar e das relações sociais, orientar e educar os filhos já jovens parece um trabalho ainda mais árduo do que criá-lo através da infância. Mas não é. Um dos princípios a serem seguidos é o exemplificado por Mariângela: estar realmente ao lado. 

Segundo o médico hebiatra Maurício de Souza Lima, vice-presidente do Departamento de Adolescência da Sociedade de Pediatria de São Paulo, conversar com naturalidade, mesmo sobre assuntos desconfortáveis, é uma das principais atitudes que os pais devem tomar nesta fase da vida do filho. “Muitos pais têm dificuldades com isso, mas é o melhor caminho para ter êxito na criação”, diz. Mas nada de chamar o filho de canto para tratar de “assuntos sérios”. À medida que a criança vai crescendo, os assuntos devem ser naturalmente inseridos na conversa por meio da televisão, das revistas, até mesmo dos vizinhos. De acordo com o médico, aproveitar as informações para emitir opiniões ao filho, mesmo que ele só escute, já é um grande passo. 

Para o psicólogo especialista em adolescentes Caio Feijó, estar bem informado sobre a maioria dos assuntos é essencial. “Nas questões relativas a sexo e drogas, por exemplo, pais não tão informados quanto os filhos não conseguem se comunicar”, afirma. Autor dos livros “Pais Competentes, Filhos Brilhantes” (Novo Século Editora) e “Educando Filhos e Alunos (Histórias de Sucesso)” (Ajir Editora), entre outros, ele conta que, sabendo mais que os filhos, os pais ganham o respeito e o interesse dos menores pelos conselhos. 

Vamos falar de sexo? 


Para a dona de casa Joanisa de Campos Leite Ascava, 51 anos, falar com os seis filhos – Lívia, Caio, Daniel, Luisa, Arthur e Letícia – sobre sexo durante a adolescência não foi algo simples. Por medo de que eles abreviassem a vida sem preocupações típica da fase e tivessem que assumir um filho antes da hora, ela sempre reforçou que, caso isso acontecesse, os filhos assumiriam toda a responsabilidade e a juventude deles chegaria ao fim. Mesmo assim, Joanisa nunca chegou a falar às filhas sobre como evitar uma gravidez: “Na minha cabeça isso não é possível. Não poderia dizer às minhas filhas que não se esquecessem de tomar a pílula, por exemplo”. 

Enquanto alertava os filhos para terem cuidado, Joanisa confiava no imenso leque de informações sobre o assunto que eles teriam na escola e presenteou os filhos com livros a respeito do tema. “Os adolescentes vão procurar informações, por curiosidade, fora da escola e de casa. Mas se os pais puderem acrescentar cada vez mais detalhes, conforme percebem que o filho já tem a maturidade necessária para entender, mais fácil será evitar dilemas no futuro”, afirma Caio. 

De acordo com Kátia Teixeira, psicóloga especialista em adolescência da Clínica EDAC (Equipe de Diagnóstico e Atendimento Clínico), de São Paulo, ao mesmo tempo em que a sexualidade está exposta abertamente, muitos pais acreditam que falar abertamente sobre o assunto dá aos filhos uma sensação de liberdade para fazer o que quiserem. É uma falsa impressão. “Os pais precisam entender que evitar falar sobre sexo não significa que os filhos não terão contato com o tema”, diz. Conversar a respeito, por outro lado, possibilita ao jovem uma tomada de decisão mais consciente. 

Os pais devem enfatizar a necessidade do uso de preservativos sempre: “É preciso informá-los que não é porque o adolescente transou três vezes com uma mesma pessoa que não é mais preciso se proteger”, reforça o hebiatra Mauricio. 

Drogas: você fumou maconha, filho? 

De acordo com o psicólogo Caio, as drogas costumam estar muito mais presentes na vida dos filhos do que os pais imaginam. “É uma ideia equivocada não falar sobre o assunto e acreditar que eles não entram em contato”, diz. “Parece que os adolescentes não veem nada de mal nisso, tanto como em usar maconha como usar outras drogas que entram no circuito deles”, reforça Mauricio. 

A maconha costuma ser a primeira droga ilícita a surgir na vida de um adolescente e, segundo estudo norte-americano, quanto mais cedo for usada, maiores as chances dos jovens terem as funções cerebrais danificadas . Os pais, portanto, devem estar sempre atentos ao comportamento que o filho apresenta. “Eles precisam entender como o filho é, como ele se constituiu. Só assim vão perceber caso as características mudem”, afirma Kátia. Joanisa percebeu quando um de seus filhos estava fumando maconha: “Eu descobri depois de reparar que ele tinha mudado algumas atitudes comuns dele, como a maneira de se vestir”. 

De acordo com Kátia, os pais sempre devem falar dos perigos do envolvimento com qualquer tipo de droga. Mas mais essencial é observar a autoestima do filho. “O adolescente está buscando uma identidade e, nessa busca, ele vai encontrar pessoas que lhe atraem de alguma forma, com drogas ou não”. Portanto, ele precisa ter sempre o suporte da família para estar seguro de si. 

O que você bebeu na festa? 
De acordo com pesquisa realizada pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), três em cada dez adolescentes consumiram álcool pela primeira vez dentro de casa . De acordo com Caio Feijó, pais devem também dar a devida importância para o contato dos filhos com as bebidas. Mariângela encontrou uma abordagem efetiva com o filho João: “Eu falo sobre o que a mulher pode achar de homens que bebem e, quando eu o busco nas festinhas, ele conta que os meninos que beberam não se deram bem com as meninas”. 

Chega de computador por hoje 

A chamada “Geração Z” costuma ter muito mais intimidade com internet, redes sociais e celulares do que os pais. Sobra aos pais duas atitudes: além de se atualizarem sobre o tema, para entender o filho, eles devem impor limites. “Muitos adolescentes estudam de manhã e não aproveitam o tempo durante a tarde, pois passam horas na frente do computador”, exemplifica Kátia. 

Mas nada em exagero faz bem para a saúde e o computador também entra nesse time. “O adolescente terá um preço a pagar se ficar abusando do tempo na internet, por exemplo”, diz o hebiatra Mauricio. Problemas na coluna ou péssimas notas na escola por passar a madrugada mandando mensagens de texto pelo celular para a namorada são algumas das consequências. “Vale estipular quanto tempo seu filho pode passar no computador ou bloquear a possibilidade dele passar a tarde toda em jogos virtuais”, completa. 


Como foi a escola? 

O segredo é encontrar uma forma de estar presente nesta área da vida do filho, sem invadi-lo. “O principal a fazer é acompanhar o dia a dia deles”, diz Mauricio. Isso inclui acompanhar as atividades escolares e o comportamento dos filhos dentro da escola. “Hoje pai e mãe trabalham fora e, quando chegam em casa tarde da noite, não querem dar bronca no filho por nada que ele tenha feito. Mas desta forma ele fica perdido e quando chega o fim do ano, ele tem um monte de recuperações”, afirma o médico. 

A maior preocupação da gerente de contas Isabela Kauffmann, de 42 anos, são os estudos do filho Lucas, de 17. Ele sempre foi um jovem muito sociável e tranquilo, mas repetiu o 2º colegial no ano passado. A maior dificuldade da mãe atualmente é fazê-lo entender o tempo que ele está perdendo por não se comprometer o bastante com os estudos. “Escuto dos professores que ele simplesmente não presta atenção”, diz a mãe. 

Segundo ela, colocar o adolescente de castigo hoje em dia não adianta. Por isso, ela prefere fazer o filho entender, na pele, as consequências dos seus atos. “Eu ia dar uma viagem de intercâmbio para ele se passasse de ano. Não passou, então ficou sem”, explica ela. 


O que você quer ser quando crescer?
 

Enquanto o filho ainda está decidindo para o que vai prestar, os pais devem manter uma certa distância. “Senão, eles podem influenciar o filho a fazer uma escolha errada”, diz Mauricio. Para Katia, existem vários fatores que podem influenciar e até motivar um adolescente – como seguir realmente a profissão do pai –, mas por ele ainda estar em busca de uma identidade, os pais devem dar chances para que ele se encontre: “Ele pode ficar muito perdido, então os pais podem dar direcionamentos com base nas matérias escolares que ele mais gosta, por exemplo, mas nunca pressioná-los”. 

Castigar os filhos é mesmo coisa do passado?

Educação não deve se basear em punição, mas em tornar claro para a criança que seus atos têm consequências

Guilherme Lara Campos/Fotoarena
Debora e o filho Léo, de cinco anos: jogar bola dentro de casa é proibido e resulta em uma noite sem videogame
Se antigamente o castigo era visto como requisito básico para alcançar a boa disciplina, hoje é item quase proibido quando o tema é educação. Os especialistas acreditam que é fundamental dar limites, orientar e fazer a criança perceber que suas atitudes produzem reações. E se o comportamento não for legal, a consequência também não vai ser. Já as mães mostram que, embora a palavra em si tenha ficado associada a técnicas violentas e antiquadas, castigo ainda existe, mas com outro nome – e muito diálogo. 


“Os adultos não devem ‘castigar’ e sim ‘educar’, levar a criança a uma reflexão sobre o resultado dos seus atos”, explica Cris Poli, educadora e apresentadora da versão brasileira do reality show “Supernanny”, no SBT.
Para a psicopedagoga Wânia Forghieri, ex-coordenadora da escola Waldorf, se os pais observam, pontuam o que está errado e dão limite, não vão precisar dar castigo. “É importante mostrar que cada ato provoca algo em mim, no meio e na própria criança”, explica ela. Sozinha, uma criança pequena não tem condições de rever o que houve e chegar à conclusão de que não agiu certo. 

A oftalmologista Debora Felberg, 37 anos, usou a regra de Cris Poli quando o filho Léo era pequeno. “Quando ele fazia algo errado, eu o punha na parede, um pouco afastado, mas onde eu pudesse ver”, conta ela. 

Agora, com cinco anos, a relação deles é de bastante diálogo. Se ele faz algo que não pode, como chutar bola dentro de casa, ela alerta. Na terceira vez, ele ganha um castigo. Pode ser ficar sem jogar videogame por uma noite ou não descer para jogar bola com os amigos do prédio. Ela garante que funciona. Mas o castigo deve ser dado na hora que a desobediência acontece. “Tem que marcar de alguma forma, senão ele esquece”, diz a mãe. 

“Se digo que vou desligar a televisão, o Léo me testa para ver se vou desligar mesmo. Ele espera que eu faça”, conta Debora Felberg. “Ele tem que testar o limite dele, e o meu também”, completa. 

Mudança de foco 

Se os pais vêm uma atitude errada da criança, não precisam bater nem gritar. Cris Poli sugere que eles interrompam a ação e coloquem a criança sentada em um cantinho predeterminado, que pode ser o degrau de uma escada ou um tapetinho. A intenção é que ela pare e pense sobre o que está acontecendo. 

Como Jo Frost, apresentadora do “Supernanny” original, Cris Polis sugere um minuto no cantinho para cada ano de vida da criança. Assim, se a criança tem três anos, ela deverá ficar três minutos pensando no que fez de errado. “O objetivo não é castigar por castigar e sim levar a criança a um raciocínio”, diz ela. 

Conforme a criança vai crescendo, o cantinho da disciplina já não faz mais sentido, pois ela se acostuma a entender as consequências de seus atos. Aí, deixar sem TV ou videogame pode ser uma boa medida. Mas novamente, a criança deve entender claramente que estas privações são consequência de suas atitudes. “Não é a mãe que deixa sem TV, mas a conduta ruim da própria criança. É preciso mudar o foco”, alerta Cris Poli. 

Para a pedagoga Teca Antunes, sempre que possível, a criança deve ser envolvida na remediação do seu ato. Se ela riscou a parede, deve ajudar o adulto a limpá-la. Lúcia, 6 anos, filha de Clara Zito, 32, adora brincar na banheira e muitas vezes exagera na diversão. A menina já participou algumas vezes da arrumação dos brinquedos e das toalhas do banheiro. “Ela reclama um pouco, faz manha, mas acaba ajudando, não tem escolha”, diz a mãe. 

Funciona? 

“Não há dúvida de que castigo funciona, mas não é necessariamente a melhor forma de ter uma relação de respeito com os filhos. Eu prefiro confiar que a criança seja inteiramente capaz de fazer o que é pedido e depois esperar até que ela perceba que não têm outra opção senão fazer o que é dito”, explica a educadora Diane Levy, autora do livro “É Claro que Eu Amo Você... Agora Vá Para o Seu Quarto!”, Editora Fundamento. 

Segundo Diane, algumas crianças ficam muito ressentidas de serem castigadas. Por isso ela prefere deixar que elas resolvam os conflitos internamente e não briguem com os pais 

Já para a psicopedagoga Wânia Forghieri, pior do que o castigo é a ameaça, geralmente não cumprida ou afrouxada no meio do caminho. “Hoje os pais trabalham longas horas fora de casa e sentem uma culpa enorme de dizer ‘não’. Deixam de castigo, mas ficam com pena”, diz Wânia. O limite de até onde a criança pode ir tem que estar claro, assim com suas consequências. Por isso, os pais devem propor algo que possam cumprir. Uma semana sem computador é difícil de manter? Diminua para dois dias, mas cumpra o prometido. 

E o mais importante: quem decide as regras são os pais, e não a criança. Os mundos dos adultos e das crianças não podem se misturar. Essa divisão vai ajudar, inclusive, na hora de reforçar a autoridade do adulto. Para Wânia, a falta de parâmetros e de “nãos” pode criar problemas no futuro. As crianças viram jovens incapazes de aceitar frustrações e não respeitam hierarquias, atrapalhando as relações no trabalho, onde não há tanta flexibilidade como em casa. Para ajudar seu filho, faça com que as regras sejam cumpridas. 

Depressão infantil pode aparecer a partir dos 4 anos

O transtorno mental que mais atinge pacientes no mundo se aproxima das crianças, mas pode ser tratado. E, quanto mais cedo, melhor

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Em uma lista com 13 possíveis sintomas da depressão, é preciso que a criança apresente pelo menos cinco para confirmar o diagnóstico
Sob a forma de noites mal dormidas, insociabilidade, tristeza, alterações de humor como irritação e choro frequente, sofrimento moral e sentimento de rejeição, uma epidemia silenciosa pode se espalhar entre as crianças de todo o País, independentemente de condição social, econômica e cultural.
Provocada por fatores que vão desde a predisposição genética até a experiência de episódios traumáticos no ambiente familiar, a depressão infantil traz problemas de gente grande para a mente ainda em desenvolvimento das crianças. 
Nos próximos 20 anos, a depressão deverá tornar-se a doença mais comum do mundo, atingindo mais pessoas do que o câncer e os problemas cardíacos, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Atualmente, mais de 450 milhões de pessoas são afetadas por transtornos mentais diversos, a maioria delas nos países em desenvolvimento.
Entre os pequenos, o índice de depressão também é preocupante. Nos últimos 10 anos, de acordo com a OMS, o número de diagnósticos em crianças entre 6 e 12 anos passou de 4,5 para 8%, o que representa um problema ascendente. "Setenta por cento dos adultos que apresentam quadro de depressão crônica têm histórico desde o período da infância. Ou seja, se não tratarmos o paciente enquanto criança, podemos contribuir para que ele se transforme em um adulto depressivo", conta Fábio Barbirato Nascimento da Silva, neuropsiquiatra especialista em infância e adolescência da Associação Brasileira de Psiquiatria.
O transtorno pode ser diagnosticado em crianças a partir dos 4 anos. Até os 9 anos, é indicado tratamento apenas à base de terapia. A partir dessa idade, de acordo com o quadro do paciente, pode ser recomendado o uso de medicação em paralelo ao acompanhamento psicológico. "A terapia sozinha fará um trabalho eficiente em longo prazo. No entanto, em crianças mais velhas, o uso de medicamento tem efeito bastante satisfatório quando acompanhado do trabalho psicológico, levando à resolução do problema em apenas dois meses em 95% do casos", completa.
As causas para a depressão infanto-juvenil podem ser as mais diversas. Há fatores biológicos, como vulnerabilidade genética, complicações durante a gestação ou parto, além de temperamento; fatores ambientais, como o funcionamento familiar, a interação entre mãe e criança ou eventos adversos de vida, e fatores sociais, como a pobreza, o suporte social ou o acesso a serviços de saúde. 
A convivência com uma psicopatologia dos pais e a experiência de episódios traumáticos nesta idade, como separação, luto ou mudanças radicais de ambiente, também podem ser fatores decisivos para o desencadeamento de transtornos mentais em crianças e adolescentes.
Fatores de berço
De acordo com Ana Vilela Mendes, psicóloga e pesquisadora do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP, de 40 a 45% das crianças que convivem com a depressão materna apresentam indicadores diagnósticos de pelo menos um transtorno psiquiátrico. 
Esta taxa é de três a quatro vezes maior do que a apresentada por crianças cujas mães não têm história psiquiátrica. "As manifestações próprias do quadro depressivo materno, como irritabilidade, desânimo e apatia, podem influenciar na qualidade do vínculo que a mãe estabelece com a criança, comprometendo a interação e o funcionamento emocional e social da criança", afirma ela.
O nível de exposição da criança à mãe com diagnóstico de depressão também pode ser definitivo para o desenvolvimento de seu quadro. Em estudo recente, Ana Vilela comparou crianças em idade escolar que conviveram com a depressão materna por toda a vida a crianças que conviveram com a depressão materna por um período menor de tempo. Ela constatou que as crianças com mais tempo de exposição à depressão materna apresentaram uma probabilidade 1,6 vezes maior de terem problemas psiquiátricos.
"Estes resultados reafirmam a importância de se considerar o tempo de exposição da criança à depressão materna e sua influência nos diferentes períodos do desenvolvimento", constata. Daí a importância da psiquiatria e da psicologia em favorecer o diagnóstico ainda no começo de sua manifestação. 
Diagnóstico delicado
Por tratar-se de um transtorno mental impassível de comprovação laboratorial, o diagnóstico da depressão é baseado nos critérios estipulados pelo Manual de Estatística e Diagnóstico de Transtornos Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders), que exige a existência de pelo menos cinco dos sintomas determinados pelo documento, com durabilidade de duas semanas, para comprovação do quadro. Entretanto, em crianças em plena fase de desenvolvimento da personalidade, a aplicação do diagnóstico pode ser mais complexa e delicada.
"Não é um diagnóstico simples de se obter, pois os sintomas podem ser confundidos com timidez, mau humor, dificuldade de aprendizagem, tristeza ou agressividade, que de certa forma podem ser normais na faixa etária em questão. O que diferencia a depressão das tristezas do dia a dia é a intensidade, a persistência e as mudanças em hábitos normais das atividades da criança", afirma Ana Vilela.
Um estudo realizado pela antropóloga Eunice Nakamura, pelo Departamento de Enfermagem em Saúde Coletiva da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP), revelou que não é apenas a complexidade da mente em desenvolvimento que pode ampliar a noção dos sintomas que causam a depressão. O estudo, que entrevistou famílias de regiões periféricas da cidade de São Paulo, constatou que diversos aspectos apontados como possíveis sintomas pelos pais e pelas próprias crianças diagnosticadas ultrapassam os critérios determinados pelo Manual de Estatística e Diagnóstico de Transtornos Mentais.
"Do ponto de vista das famílias, o significado de depressão envolve tanto os aspectos da vida social quanto os sintomas indicados pelo discurso médico. A intolerância dos adultos em relação às crianças, que diante de condições de vida deliciadas ficam mais sensíveis e chorosas, e a ideia de insatisfação em geral, por exemplo, apareceram como indicação de sintomas de depressão", conta professora Eunice Nakamura, atualmente no núcleo de pesquisa antropológica da Unifesp Santos. 
"Já que a ideia de depressão infantil, para estas famílias, envolve uma série de fatores externos, o grande desafio dos especialistas é pensar em tratamentos adequados ao que se avalia diante de cada ponto de vista da doença, uma vez que aspectos externos podem ser confundidos com sintomas", completa.
Transformação dos sintomas 

Alteração de humor, irritabilidade, dificuldade para dormir ou muito sono durante o dia, além de pessimismo e autodepreciação, são comuns ao quadro de depressão encontrado tanto no adulto quanto no jovem. Mas em um momento em que a personalidade da criança está em pleno desenvolvimento, diagnosticar um transtorno mental é ainda mais difícil.
Segundo Fábio Barbirato, crianças em idade pré-escolar (até 5 anos) tendem a desenvolver sintomas como melancolia, enurese (xixi na cama), encoprese (eliminação de fezes involuntária) e crises de choro. Também podem ocorrer regressão no desenvolvimento psicomotor, insônia e pesadelos. 
Em crianças na idade escolar (de 6 a 12 anos), os sintomas estão mais relacionados a aspectos de sociabilidade, como dificuldade acadêmica, problemas de relacionamento com a família e os colegas, irritabilidade e agressão crescentes, tédio, ganho ou perda de peso excessivo, cefaleia e dores de estômago.
Já entre os adolescentes, o transtorno passa não apenas a intensificar os sintomas encontrados na infância, como desencadeia uma série de comportamentos até mesmo fatais. "Esta fase do transtorno provoca nos jovens comportamentos anedóticos (incapacidade de sentir prazer), com quadros de tristeza intensa, condutas antissociais, ataques de pânico, queda no rendimento escolar, hipersonia (sonolência em excesso), e em casos mais extremos, promiscuidade sexual, abuso de drogas e até mesmo suicídio", afirma o médico. 

Sintomas principais 

O Manual de Estatística e Diagnóstico de Transtornos Mentais determina a necessidade de identificar pelo menos cinco destes sintomas, com durabilidade de duas semanas, para comprovação do quadro. Fique atenta a esses sinais para saber quando levar seu filho para uma avaliação profissional.
1. Alteração de humor, com irritabilidade e ou choro fácil
2. Ansiedade
3. Desinteresse em atividades sociais, como ir a escola, brincar com os amigos ou com brinquedos
4. Falta de atenção e queda no rendimento escolar
5. Distúrbios de sono, como dificuldade pra dormir ou ter sono o dia inteiro
6. Perda de energia física e mental
7. Reclamações por cansaço ou ficar sem energia
8. Sofrimento moral ou insatisfação consigo mesmo, sentimento de que nada do que faz está certo
9. Dores na barriga, na cabeça ou nas pernas
10. Sentimento de rejeição
11. Condutas antissociais e destrutivas
12. Distúrbios de peso, emagrecer ou engordar demais
13. Enurese e encoprese (xixi na cama e eliminação involuntária das fezes)