Os pais querem que o filho se destaque na escola, no esporte, no
curso de línguas... Mas exigir que ele seja o melhor em tudo pode
transformá-lo numa pessoa insegura. Veja como ajudá-lo a se dar bem sem
tanto stress
Ele precisa ser um superfilho?
Foto: Getty Images
Numa sociedade em que a concorrência é cada vez maior, a tendência é os
pais se preocuparem demais com o desempenho dos filhos. Daí, matriculam
a criança ou o adolescente em várias atividades além da escola. Ok, não
há nada de errado em investir na educação, já que ela fará diferença no
futuro deles. O problema é quando a busca pelo filho perfeito tem a ver
também com a vontade dos pais transformarem a garotada numa versão mais
bem-sucedida de si mesmos. Nesse caso, as exigências são duras. "Pais
competitivos demonstram dificuldade em aceitar que o filho tenha
limitações e preferências", acredita o psiquiatra e psicoterapeuta
Gabriel Magalhães Lopes, especializado em infância e adolescência, do
Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP). "Muitos se
sentem realizados só quando o filho fica em primeiro lugar, porque
encaram como se fosse a própria vitória", completa a psicóloga Patricia
Spada, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Insegurança à vista
Se a criança ou o adolescente forem cobrados em excesso, podem
desenvolver uma série de problemas. O principal é a baixa autoestima.
Como é impossível manter-se no auge o tempo todo, eles se frustram. Além
disso, o espírito de rivalidade se torna exacerbado, interferindo na
capacidade de estabelecer vínculos positivos com pessoas da idade deles.
A criança indica que está sendo cobrada além dos limites quando
apresenta: sonolência, irritabilidade, agressividade, isolamento,
indisposição, aumento nos níveis de ansiedade e insegurança (esse
sentimento é percebido quando o pequeno passa a perguntar se o que
eleestá fazendo é correto, ou busca aprovação para tudo). No caso dos
adolescentes, eles também demonstram irritabilidade e sonolência, no
entanto os sintomas mais comuns são: isolamento, tristeza e mudanças nos
hábitos alimentares (passam a comer muito ou pouco).
De bom tamanho
Diante desses sinais, há duas coisas a fazer: primeiro, diminuir o grau
de exigência e, segundo, aliviar a agenda da garotada. Pensar que os
filhos têm que se sair bem em todas as atividades é um erro. Uma
pesquisa realizada pela Universidade East Anglia, na Grã-Bretanha,
mostrou que o ócio na infância é essencial para desenvolver a
criatividade. Para chegar a essa conclusão, foram entrevistados dezenas
de artistas que contaram o que faziam quando eram pequenos. O ponto
comum entre eles: tempo livre! É preciso ficar atenta para não preencher
tanto o dia dos filhos a ponto de minar a diversão ou prejudicar as
atividades de rotina. "Às vezes, o rendimento deles cai ao se sentirem
pressionados", diz Patricia. Escutar o filho também é essencial. "Se ele
reclama que está cansado, os pais devem respeitar", completa a
psicóloga.
Pai e mãe em sincronia
O casal tem que compartilhar a mesma opinião. Os pais precisam decidir o
que fazer em todas as situações antes de comunicar qualquer coisa ao
filho. Se uma parte acha que deve cobrar mais e a outra não, o casal tem
que afinar o discurso. Do contrário, o filho fica inseguro. Pior:
"Quando o casal se divide, a criança também reparte a família em dois
blocos e corre para um ou outro segundo as suas necessidades", diz a
psicopedagoga e neuropsicóloga Ana Paula Macchia, do ABC Aprendizagem
Centro Interdisciplinar, em Santo André (SP). Se o seu filho, por
exemplo, quer parar de estudar para ver TV, ele busca a parte menos
"cobradora". Para adiar o banho, alia-se à figura permissiva dizendo que
vai estudar mais umpouco. "Pai e mãe devem tomar uma posição juntos e
firmá-la assim: 'nós decidimos que...', ou 'nós queremos que...'",
conclui ela.
Nota 10?
Tirar sempre a nota máxima na escola não significa que a garotada
esteja aprendendo tudo. Segundo a psicóloga Patricia Spada, ela pode
apenas ter encontrado uma fórmula para responder corretamente às
questões, sem necessariamente absorver o conteúdo. "Além disso, tirar
nota boa deve serresponsabilidade do filho, não dos pais. Desde cedo ele
tem que se tornar responsável pelo próprio desempenho", completa. Mas
pai e mãe precisam, claro, acompanhar as atividades e cobrar
responsabilidade e disciplina. "A nota é consequência. Exigir somente o
10 transforma o filho num perseguidor de resultado, pouco preocupado com
o processo", explica a neuropsicóloga Ana Paula.
Dicas valiosas
· Valorize o talento dele.
· Descubra o que ele tem de único e estimule. Para isso, preste atenção
ao comportamento dele. Se a criança ou o adolescente se motiva mais
para uma prática, pode ser sinal de que tem potencial para a área.
· Resista à tentação de achar que você tem total poder sobre o futuro dele.
· Os filhos têm preferências, que devem ser respeitadas. É preciso
perceber se, no fundo, você não está atendendo apenas as suas demandas.
· Não faça comparações.
· Seu filho não precisa ser tão bom quanto o irmão, ou melhor que a
criança da vizinha. Se um vai bem em matemática e o outro não, veja a
possibilidade de eles se ajudarem em vez de estimular a competição entre
ambos.
· Seja positiva e evite comentários negativos.
· Pode ser diante de uma nota baixa ou da dificuldade do seu filho em
ser o melhor em alguma coisa. Dessa forma, você não o deixa se sentindo
incompetente.